A elevação da taxa Selic tem efeito dramático sobre a dinâmica dos negócios. A certeza de ganho na arbitragem frente as perspectivas de inflação associada ao seu reflexo enquanto componente desacelerador da economia e, consequentemente, das transações comerciais, afugenta os investidores das aplicações de maior risco. A alta dos juros é fator que inibe a procura por outros tipos de contratos em que o risco é maior, como é o caso daqueles negociados no mercado de commodities.
O mercado de dólar futuro na BM&F-Bovespa continua a sinalizar crescente desvalorização do real, impactando a formação dos preços em dólar das principais commodities negociadas pelo país. A performance da economia estadunidense associada a uma possível majoração dos juros básicos por parte de sua autoridade monetária têm promovido crescente interesse pelas posições em dólar por parte dos agentes de mercado, acarretando valorização da moeda (Figura 2).
Na Bolsa de Nova York, a média das cotações no mercado futuro de arábica exibiu dois momentos distintos. Nas primeiras duas semanas com mudança positiva no patamar das cotações e declínio na média das duas semanas seguintes. Dois fatores podem explicar tal baixa: a) início da colheita no Brasil e sentimento de que a safra possa surpreender; e b) princípio do verão no Hemisfério Norte pode ser um dos motivos da pressão baixista sobre o produto, uma vez que os embarques brasileiros em pouco superou os 2 milhões de sacas em maio de 20152 (Figura 3).
A trajetória da média das cotações semanais na bolsa londrina para os contratos futuros de café robusta exibiu contínua queda (Figura 4). Em 2015, os embarques brasileiros do produto têm surpreendido o mercado, já contabilizando 1,87 milhão de sacas transacionadas para o exterior. Comparativamente, em 2014, a exportação global de conilon foi de 827 mil sacas3. Ademais, o barateamento do arábica torna vantajoso o aumento de sua participação no blend em detrimento do robusta, o que pode estar induzindo baixa tão expressiva no produto.
Ao longo do mês de maio na Bolsa de Nova York, mais precisamente no dia 18, houve liquidação da segunda posição até então a de julho, assumindo essa condição a de setembro. Essa situação promoveu a baixa na quantidade de contratos vendidos com recompra na semana seguinte (Tabela 1). Evidentemente, tal movimentação contribuiu para a oscilação negativa nas cotações do arábica.
A diminuição do ritmo dos embarques brasileiros, contabilizada pelas estatísticas recém divulgadas, evidencia queda na disponibilidade interna (remanescentes da safra 2014/2015 e estoques). Uma safra mais modesta do Brasil, conforme previsto pela Conab em seu segundo levantamento, poderá acarretar forte pressão sobre as cotações no médio prazo. As incertezas sobre esse mercado são inúmeras e com isso deverá crescer a volatilidade das cotações.
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1O autor agradece o trabalho de sistematização do banco de dados econômicos conduzido pelo Agente de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica do IEA, o analista de sistemas Paulo Sérgio Caldeira Franco.
2CONSELHO DOS EXPORTADORES DE CAFÉ DO BRASIL - CECAFE. Banco de dados. São Paulo: CECAFE. Disponível em:
3Op. cit. nota 2.