O aumento da oferta de produto de qualidade no Brasil também exibe reflexos significativos nos embarques do produto. Estimativa elaborada pelo Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (CECAFE) a partir dos registros de embarques indica que, aproximadamente, 10% de todo o volume de café verde exportado já é composto pelo tipo lavado (de oferta ainda limitada) e pelo CD (Tabela 1).
TABELA 1 - Estimativa de Quantidade Exportada de Cafés Preparados por Via Úmida, Brasil, 2005-jan.-jul./2010
Para entender o assunto
O mercado de arábicas finos estabelecido na Bolsa de Nova Iorque, constitui-se no grande formador de preços para todas as demais praças em que se negocia café em âmbito mundial.
Há cerca de sete anos, por iniciativa dos exportadores brasileiros, houve grande esforço articulado, visando a obtenção do aceite do registro de café lavado brasileiro para entrega na Bolsa de Nova Iorque. Apesar do sério e competente trabalho desenvolvido, não se obteve o esperado êxito, pois os lobbies colombianos e centro-americanos pressionaram a estrutura legislativa estadunidense que, por sua vez, atuou junto aos administradores da bolsa no sentido de descartar essa possibilidade.
Recentemente, as autoridades daquela bolsa sinalizaram com a possibilidade de vir a aceitar o registro de lavados e semi-lavados brasileiros para entregas no mercado físico. Essa possibilidade tem sido amplamente discutida entre os técnicos e agentes de mercado, suscitando ainda algumas controvérsias. As autoridades da Bolsa de Nova Iorque sinalizam com o aceite, pois precisam incrementar fontes de liquidez para seus negócios, em momento conjuntural que ocorre forte encolhimento na quantidade de café certificado naquela praça (Figura 1).
FIGURA 1 - Evolução da Quantidade de Café Certificado, Bolsa de Nova Iorque, 2000 a jun./2010
Destaca-se ainda que os preços médios obtidos pelos embarques de produtos lavado e semi-lavado brasileiros são promissores. Enquanto a cotação média em 2009 praticada na BM&F para o natural foi de US$148,25/sc, o preço médio obtido pelos exportadores nas transações envolvendo o lavado e semi-lavado atingiu os US$186,90/sc, diferença essa bastante significativa em reais após conversão pela taxa média de câmbio nesse ano. Dentre os países produtores de café, são os cafeicultores brasileiros aqueles cujos valores recebidos mais próximos ficam da cotação de Nova Iorque. Assim, o exportador ao obter melhores preços pelo produto, ainda que fora do circuito da bolsa (pois essa praça não aceita o produto lavado brasileiro) transmite essa vantagem aos envolvidos nessa transação comercial. Portanto, esse é um benefício que não pode ser ignorado por nenhum agente desse agronegócio.
A abertura dessa possibilidade de entrega de café brasileiro na Bolsa de Nova Iorque confere ao produto do país e, consequentemente, aos seus cafeicultores a possibilidade de virem a participar do mercado de cafés finos, que se encontra em processo de expansão exponencial alavancado pelas estratégias das transnacionais da torrefação que definitivamente internalizaram a estratégia de agregação de valor ao produto por meio da venda por dose constituída por ligas de café de alta qualidade.
Ademais, a chance da Bolsa se tornar um dos possíveis compradores de café brasileiro amplia a concorrência pelo produto nacional, com repercussões favoráveis aos cafeicultores em termos de eficiência da formação de preços de seu produto. Ao se estruturar esse mecanismo de formação de preço para o produto de alta qualidade poderá inclusive auxiliar numa mais "justa" formação de preços para o café natural. Esses mercados funcionam como vasos comunicantes e alterações nas cotações de um tipo rapidamente se transmitem para o outro congênere.
Outros fatores pró-Nova Iorque podem ser explicitados: 1) a abertura de mais uma alternativa para a venda do café fortalece o poder de barganha dos cafeicultores frente aos seus clientes (traders, exportadores, torrefadores); 2) Nova Iorque sempre será um canal de comercialização de última instância, ainda que se considere a maior facilidade que é a possibilidade de entregar em São Paulo, comparativamente, à sua exportação para aquela praça e 3) a BM&F poderia criar uma cláusula dentro de seu contrato de natural com prêmio para cafés lavados e semi-lavados da mesma qualidade daquele contado no Contrato C em Nova Iorque. Com isso seriam estimuladas as operações de arbitragem carreando maior liquidez inclusive para a bolsa paulistana.
A certificação do café brasileiro por si só contribui para uma formação de preços mais justa e, conseqüentemente, melhor para os cafeicultores, que por natureza do ofício (obviedade necessária), comercializam café e esperam alcançar rentabilidade em seu negócio capaz de fazer frente aos custos incorridos e que ainda os permita manter um padrão de bem estar a altura das exigências de um país como o Brasil.
Independente da decisão final dos gestores da bolsa de Nova Iorque, a trajetória para a cafeicultura brasileira continuará firmemente apoiada no alicerce da inovação tecnológica/desenvolvimento com incremento da qualidade por meio de atenção total ao pós-colheita.