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A megalomania da gestão pública e a ruína dos cafeicultores

POR CELSO LUIS RODRIGUES VEGRO

E FÉLIX SCHOUCHANA

CELSO VEGRO

EM 22/12/2009

4 MIN DE LEITURA

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O atual episódio de "imprevistos" atrasos nos pagamentos aos cafeicultores aderentes ao programa de opções públicas denota a precariedade com que as decisões são implementadas, que não raras vezes lançam os crédulos, os cidadãos (no caso os cafeicultores) para sobre verdadeiro solo pantanoso onde seu caminhar é claudicante e os tropeços uma certeza.

O programa de opções públicas para café arábica consiste numa espécie de leilão em que o Governo Federal estabelece o interesse em adquirir futuramente o produto por valor calculado a partir do preço mínimo de referência, acrescido do custo financeiro do carrego mais margem percentual que confira alguma atratividade para o exercício das opções adquiridas pelos cafeicultores interessados no programa. Para fazer jus a um possível exercício das opções compradas, os cafeicultores aderentes incorrem em despesas como a cobertura do prêmio e taxas de registro dos contratos adquiridos em leilão público. O prêmio, nesse programa, é negociado em leilão entre os produtores e o Governo, e corresponde ao valor que o produtor está disposto a pagar para ter o direito de vender o café ao preço estabelecido pelo Governo.

Nos dois avisos de venda leiloados pela CONAB, apenas o primeiro de 1,0 milhão de sacas de café beneficiado alcançou o prazo de exercício, sendo entregues, segundo dados da companhia, 740 mil sacas, ou seja, aproximadamente dois terços do volume leiloado. Nesse primeiro leilão o Governo Federal arrecadou R$9,50 milhões, segundo SCHOUCHANA &VEGRO, 2009.

Importante é destacar que o Aviso de Venda possui cláusula concedendo a possibilidade de recompra dos contratos leiloados, medida essa que implicaria em desencaixe muito menos expressivo que a aquisição no físico. Diante do atraso verificado nos pagamentos dos contratos exercidos, torna-se absolutamente injustificável a não aplicação da alternativa da liquidação financeira. Trata-se de caso recorrente de má gestão pública cuja superação só se pode almejar com o exercício da crítica bem fundamentada.

Caso os gestores da política cafeeira houvessem aplicado a diretiva de liquidação financeira, o desembolso com a recompra oneraria em apenas R$22,94 milhões [(R$303,50/sc do preço de exercício - R$272,50/sc do preço a vista) x 740.000 sacas], calculado a partir da média de preços do mercado físico observada entre 16 a 30/11/2009. Comparativamente, esse valor representa apenas 10,21% do montante exigido pela aquisição física do produto, calculada em R$224,59 milhões (740 mil sacas x R$303,50/sc).

Além desse aspecto, vale lembrar que o Governo irá incorrer em custos de armazenagem e terá que avaliar corretamente o melhor momento de vender o produto ao mercado. Melhor teria sido deixar essa decisão ao produtor.

Na edição dos contratos de opções públicas que ao atual antecedeu, não se reportam problemas de qualquer natureza. Assim, era de se acreditar que os recursos já estivessem programados e disponíveis, uma vez que o exercício das opções já era previsto desde outubro de 2009, em consonância com os preços futuros sinalizados naquela época.

O primeiro tropeço derivou da questão tributária relativa ao recolhimento do ICMS nas transações interestaduais. A concentração dos contratos vendidos entre os cafeicultores e as cooperativas mineiras foi nesse caso um mal que veio para bem. Depois, a arquitetura de uma política sem adequada previsão orçamentária; arrolamento do rito processual e dimensionamento real dos prazos necessários para o cumprimento das etapas (CMN, Ministério da Fazenda, MAPA; CONAB e agente financeiro); o necessário convencimento do legislativo sob liderança das entidades de classe (sindicatos, associações e em menor escala as cooperativas), comprova a falha no planejamento estratégico capaz de amparar a plena execução dos objetivos traçados.

Todos esses "esquecimentos", como se ainda não fossem poucos, ganharam outra equivocada decisão. Ao estabelecer um padrão de qualidade para o produto em exercício (a mesma válida nas opções privadas vigentes no mercado de bolsa), impôs custos adicionais totalmente desnecessários aos cafeicultores. Se o destino final desse café pertencente ao Governo Federal forem os leilões para os torrefadores, um café tipo 6 estaria mais que suficiente para cumprir com as exigências de perfil de sabor mais usuais no mercado interno.

Caso essa operação de opções fosse feita em Bolsa, o vendedor das opções (no caso, o Governo) seria considerado inadimplente, uma vez que ele não cumpriu sua obrigação contratual, e suas garantias seriam executadas no dia seguinte ao dia do exercício. Ato contínuo, o valor dessas garantias teria sido repassado aos produtores. Por outro lado, o prêmio pago pelo produtor teria sido maior, e também não haveria um único tomador de risco (Governo) e sim vários tomadores de risco.

O atraso nos pagamentos aos cafeicultores em exercício consiste numa dupla punição e assimetria nas responsabilidades contratuais, na medida em que o produtor não recebeu o valor relativo ao preço de exercício e os pagamentos dos prêmios pelos contratos, já realizados pelos produtores, são ainda a única movimentação financeira ocorrida no âmbito desse programa.

Moral da história: a má gestão pública consegue arranhar mais uma elegante política como são as opções públicas.

Confira também o artigo Opções públicas sob amplo escrutínio.

CELSO LUIS RODRIGUES VEGRO

Eng. Agr., MS Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade. Pesquisador Científico VI do IEA-APTA/SAA-SP

FÉLIX SCHOUCHANA

Economista, Pós-Graduação em Economia, com especialização em Mercados Agrícolas, Diretor da BM&F de 2003 a 2008, Atualmente na Market FS Consultoria e Treinamento Ltda.

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CELSO LUIS RODRIGUES VEGRO

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 07/01/2010

Prezado Roberto Ticoulat

Em primeiro lugar, muito nos honra receber um comentário seu sobre nosso artigo, em se tratando de um amigo que conhece o setor cafeeiro com muita profundidade.

Temos o máximo respeito e admiração pelo Ministro Reinhold Stephanes, assim como pela sua equipe. A crítica não foi personalizada e sim, como você menciona, visou apontar a falta de planejamento de quem deveria prover os recursos ao Ministério da Agricultura.

Sobre a demanda de café no exterior, acreditamos que o desafio é como montar uma aliança/parceria logística com as principais redes varejistas, capaz de concorrer com os alemães, holandeses e italianos (e de outros países). De fato, esse é um ponto vital para desatar o nó da cafeicultura brasileira.

Finalmente, sobre a qualidade do café das opções: ou o Governo aceita um café de padrão mais acessível, ou deveria liquidar financeiramente os contratos, para reduzir o custo de padronização ao produtor, pois com a exigência de uma qualidade elevada, ele tirou com uma mão (aumentando o custo da entrega) o que deu com a outra (subsídio).

Mais uma vez, agradecemos a sua atenção e gentileza pelos comentários.

Abraço,

Celso e Félix

CELSO LUIS RODRIGUES VEGRO

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 07/01/2010

Prezado Roberto Ticoulat

Demonstra você a vocação para aguentar chateação. Deve haver algo de melhor por fazer do que estar a ler nossos artigos. Ou será que não?

Quanto a mim, só me resta mesmo agradecer aos rasgados elogios e colocar nossos préstimos (tenho convicção que o Félix assina em baixo esse meu oferecimento) em apoio a Sociedade Rural Brasileira e as demais instituições que atuam com café para que consigamos construir um caminho mais colorido para o conjunto desse agronegócio. Iniciar esse debate pelos quesitos que você levanta sem dúvida é um direcionamento formidável.

Se ainda possuir um bocadinho de paciência recomendo-lhe apreciar o artigo que deu origem a esse que também encontra-se postado nessa página e tem por título: Opções públicas sob amplo escrutínio.

Abçs


Celso Vegro
ROBERTO TICOULAT

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 06/01/2010

Caro Celso e Felix (aliás que dupla heim!),

Vocês têm toda a razão nos pontos abordados e infelizmente a gestão pública vem sendo desta forma há muitos anos. O que realmente falta é planejamento estratégico para o setor mas não devemos deixar de reconhecer que o Ministro da Agricultura têm se empenhado ao máximo em melhorar a situação da cafeicultura nacional.

Entendemos perfeitamente as agonias que nossos produtores têm vivido pois uma atividade sem renda torna todos os nossos assuntos mais prementes e acabam gereando os problemas como os que vocês descreveram no seu artigo.

Mas gostaria de acrescentar um ponto que para mim é o mais sensível de todos: temos de parar de ficar somente discutindo postergações de pagamentos de dividas vencidas, que não deixa de ser uma discussão importantíssima, e temos de focar em aumentar a demanda de nossos cafés no exterior, já que a demanda em nosso mercado interno têm sido crescente, apesar de margens cada vez mais apertadas.

Este para mim é o principal ponto a ser discutido, pois hoje vendemos café no exterior a preços abaixo do nosso potencial e não temos conseguido ampliar nossas vendas com valor agregado, pelos diversos fatores de conhecimento de todos os elos da cadeia. A cadeia café precisa com urgência tratar deste tema que é de fundamental importância para nosso negócio.

Um último ponto é com relação à qualidade do café que está sendo entregue no programa de opções públicas pois a dificuldade de preparar os lotes a serem entregues, tendo em vista da qualidade da safra atual, prejudica em muito o sucesso do leilão.

Parabéns pelo artigo.

Roberto Ticoulat

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