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A maldição das peneiras

POR CELSO LUIS RODRIGUES VEGRO

CELSO VEGRO

EM 20/06/2024

5 MIN DE LEITURA

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Atualizado em 20/06/2024

Um quesito, no andamento da atual colheita – que já alcança um terço do total a ser recolhido –, tem surpreendido tanto técnicos como cafeicultores: a prevalência de baixas peneiras na massa de grãos beneficiados. Seguidos relatos apontam essa situação1, indicando que se trata de reflexo tanto da florada quanto de maturações precoces, inclusive para as variedades médias e tardias.

Diante dessa realidade, imediatamente surge a pergunta: em havendo uma safra com predominância de peneiras menores, qual seria o impacto disso no volume de colheita esperado?

Varrendo toda a literatura disponível, não se encontram estudos recentes que tentaram responder a essa pergunta. Porém, o informativo da Cooperativa Regional dos Cafeicultores de Guaxupé – FOLHA RURAL, n.81, publicado em abril de 1981, apresenta o estudo: Prejuízos na Colheita de Cafés Verdes, sob autoria do prestigiadíssimo colega Aldir Alves Teixeira, contemplando a seguinte informação (Tabela 1):

TABELA 1Peso médio de grãos de café segundo distribuição por peneira, São Paulo, 1981

Peneiras              Peso médio dos grãos (g)
                  Normal         Verde        Ardido        Preto
18                  0,158        0,143        0,127        0,120
17                  0,143        0,121        0,112        0,099
16                  0,126        0,112        0,109        0,083
15                  0,107        0,099        0,088        0,088
14                  0,091        0,082        0,081        0,067
13                  0,074        0,067        0,063        0,055
Média           0,1225     0,0994      0,0778      0,0642

Fonte: Recebido de TEIXEIRA, A.A., jun./2024


Essas médias de peso, por classificação de peneira, foram apuradas depois do beneficiamento de 87 amostras de cafés arábicas colhidos no Estado de São Paulo na safra 1979/80. Quanto ao teor de umidade (elemento que interfere bastante no peso das favas), os resultados do trabalho contabilizaram: 39 amostras continham menos de 11% de umidade; entre 11% e 12% de umidade, outras 37 amostras, e, por fim, acima de 12% de umidade, apenas 11 amostras.

Valendo-se desses resultados, obtidos por meio de análise empírica, torna-se possível elaborar projeções para o resultado da safra de café arábica, sob a prevalência de peneiras baixas, comparativamente a uma composição de peneiras em uma safra considerada normal. 

Assim, elaboraram-se dois cenários, o normal e o atual. Como critérios para esse exercício foram empregados: 15% de Moca com peso similar ao obtido para a peneira 13 (0,074 g/fava) e 5% de PVA (média de peso de 0,078g/fava), mantidas as condições de umidade relatadas na publicação (Tabela 2).

TABELA 2 – Estimativa do número de grãos para inteirar 60 kg de café beneficiado

Peneiras    Peso médio       Safra Normal           Safra 23/24*          Variação (no)
                       (g/grão)         %         no grãos          %        no grãos     
18                     0,158            2        126,5823           0           -                              0
17                     0,143            8        559,4406           2        139,8601           419,5804
16                     0,126          40    3.174,6032          15    1.190,4762        1.984,1270
15                     0,107          20    1.869,1589          36    3.364,4860        1.495,3271
14                     0,091            5        549,4505         17     1.868,1319        1.318,6813
13 + Moca       0,074          20    2.702,7027         25     3.378,3784           675,6757
PVA                   0,078           5         641,0256          5         641,0256                0
                                           100    9.622,9638(a)  100    10.582,3582(b)    -959,3944 
*estimativas elaboradas a partir de parâmetros recebidos de cafeicultores que já beneficiaram os primeiros lotes colhidos.
Fonte: elaborada pelo autor a partir de dados básicos de TEIXEIRA, 1981.


Em termos de número de grãos para completar o peso comercial da saca de café, dentro da estimativa elaborada, serão necessários, aproximadamente, 960 grãos a mais. Parece pouco, mas, quando multiplicada pelo número de sacas da safra brasileira de arábica (48,20 msc pelo USDA e 42,11 msc pela CONAB), essa pequena quantidade de grãos tem um efeito enorme sobre o resultado final da colheita.

Empregando a equação: {[(b-a)/a]-1}*100, estima-se o percentual de quebra da previsão de quantidade de grãos colhidos por tipo de peneira numa safra “normal” frente ao que resultaria a partir do impacto, em termos de tamanho de peneira, do cenário construído para a corrente safra. Aplicando a fórmula descrita, alcança-se quebra de peso de 9,0% frente ao que seria a safra “normal”.

Está claro que teremos perdas. Os parâmetros podem ser alterados conforme os critérios que cada um possa adotar (maior teor de umidade, maior quantidade de PVA, menor quantidade de moca – aqui considerada em 15%), enfim, são inúmeras as possibilidades. De qualquer modo, o indicativo que se extrai é que não se trata de safra portentosa e, talvez, venha a comprometer o terceiro ciclo de alta2.
O mundo está de joelhos implorando mais café do Brasil. Falta combinar isso com as mudanças climáticas, que, assim como afetam nossos concorrentes, nos afetam também – sinal disso, nesse momento, é a prevalência de baixas peneiras em arábica. Ademais, os principais portais de previsão climática indicam que entraremos em longo período de estiagem (que se iniciou mais cedo, associado a temperaturas acima das médias históricas)3. Momento preocupante, e os cafeicultores devem se precaver, pois preço sem produção é igual a nada! 

1 Veja: https://www.redepeabirus.com.br/redes/form/post?topico_id=112187 (acesso em 20/06/2024)
2 Em entrevista concedida pelo diretor presidente da COOXUPÉ, sua percepção é a de que, sob a área de influência da cooperativa, a corrente safra repete a colheita do ano passado.
3 Quem ainda não contratou uma apólice de seguro para a lavoura está sob brutal risco de zerar sua rentabilidade na temporada que em agosto se inicia.

CELSO LUIS RODRIGUES VEGRO

Eng. Agr., MS Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade. Pesquisador Científico VI do IEA-APTA/SAA-SP

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