A pesquisa contou com a participação de 8 regiões produtoras. Diante dos diversos temas de grande relevância ao setor, a enquete deste ano abriu a opção de 3 respostas por participante.
A Mão de Obra esteve presente nos votos de dois terços dos leitores, ou 66,7%. Em segundo lugar, entre os principais desafios da cafeicultura para 2013, ficou Cotações e em seguida Gestão de Custos, com 57,3% e 42,7% respectivamente. Há um ano atrás, a enquete trouxe Incertezas Climáticas no lugar de Cotações entre os 3 primeiros itens.
A drástica queda nas cotações vistas neste período, em torno de 30% (confira a respeito), certamente impulsionaram os votos dos profissionais neste tema, levando as preocupações climáticas para o quarto lugar. Gestão de Custos permaneceu em terceiro posto entre os desafios.
Vale ressaltar que Sul de Minas, responsável por mais de um terço das participações, foi a única região a colocar Cotações ligeiramente à frente de Mão de Obra. Já em regiões como Espírito Santo e São Paulo, segundo e terceiro maiores estados produtores de café do Brasil, a diferença entre os temas em questão foi muito significativa, impulsionando Mão de Obra com folga ao topo do resultado geral.
Os desafios com a mão de obra na cafeicultura brasileira vêm sendo há alguns anos tema de destaque.
A forte dependência de massa significativa de trabalhadores por parte da produção de montanha, responsável por mais de 70% da cultura cafeeira nacional, aliada entre outros fatores à significativa alta do salário mínimo na última década, faz com que este tema seja bastante crítico para o setor.
A atividade exige cada vez mais pessoas qualificadas e comprometidas. No entanto, a tendência ao êxodo rural por parte das jovens gerações tem se tornado um forte agravante aos cafeicultores no que se refere ao encontro destas necessidades.
As legislações trabalhistas, da forma como têm sido aplicadas, também vêm realçar as dificuldades encontradas pelos produtores na gestão da mão de obra em suas propriedades. Por sinal, o item Legislações Trabalhistas aparece na quinta posição entre os desafios para 2013.
Uma política de retenção e/ou atração de famílias brasileiras ao campo é mais do que necessária. Ao mesmo tempo em que urge à cultura cafeeira nacional maior disponibilidade de Tecnologias eficazes para a produção de montanha (saiba mais), assim como adequada e abrangente capacitação dos usuários dos novos equipamentos e maquinários (confira mais informações).
Vale lembrar, no entanto, que tais problemas estão vindo ao foco de instituições importantes no desenvolvimento do setor nacional. Temos visto a questão da otimização da tecnologia de montanha ser colocada em pauta com mais assiduidade em discussões abrangendo o Governo e iniciativa privada (confira aqui exemplo e aqui) ou por meio de esforços de representantes do setor (confira aqui um exemplo)
Profissionais do setor foram procurados pelo CaféPoint para enriquecer as discussões em torno do assunto.
Silas Brasileiro, Presidente Executivo do CNC - Conselho Nacional do Café, afirmou que "a questão da mão de obra é uma preocupação constante para que o Brasil se torne mais competitivo em um mundo de economia globalizada."
Silas reforçou a complexidade do sistema legislativo que envolve o setor: "como cafeicultores, enfrentamos muitas variáveis, entre as quais uma legislação arcaica, e, por ideologia, não avançamos no sentido de trazê-la para a conjuntura econômica atual, fato que tem levado os produtores, como um todo, a partirem para a mecanização em detrimento à contratação de mão de obra."
O Presidente Executivo do CNC salientou que "como entidade de classe, temos e continuaremos trabalhando junto ao governo para que entenda essa necessidade premente e proponha reformas substantivas em uma legislação totalmente desatualizada e que onera sobremaneira o custo de produção no campo. Somos favoráveis à remuneração justa para os trabalhadores e também no investimento em sua formação profissional, a exemplo do que fez o governo do Estado de Minas Gerais ao criar os Centros de Excelência do Café com a finalidade de qualificar os trabalhadores voltados à cafeicultura."
Luiz Ronilson Araújo Paiva, Coordenador de Formação Profissional Rural do Senar Minas - Serviço Nacional de Aprendizagem Rural, enfatizou o incremento de tecnologias nas atividades cafeicultores em decorrência da escassez da mão de obra, fenômeno este visto de maneira mais explícita em anos recentes. "Devido a carência de mão de obra no setor da cafeicultura, observamos uma intensificação da Mecanização de todos os processos possíveis, seja no manejo geral, como limpeza-roçadas, podas/esqueletamentos e pulverizações, bem como no processamento de secagem e beneficiamento. Há também uma utilização intensa de equipamentos motorizados de pequenos porte- portáteis, principalmente nas lavouras em áreas com declividade mais acentuada.
Para as lavouras de maior porte, o uso de equipamentos automotrizes como pulverizadores e colhedoras já estão sendo largamente utilizadas, substituindo a mão de obra que, além de escassa, tem apresentado um custo mais elevado em relação as outras atividades do agronegócio."
Neste contexto, a instituição mineira do Senar tem aumentado a oferta de treinamentos nestas áreas. "Com a geração de uma capacitação da mão de obra remanescente no campo, permite-se agregar competências e habilidades conforme o mercado de trabalho rural vem exigindo", afirma Luiz Ronilson.
O profissional do Senar comenta por fim que a instituição tem reforçado a atenção à área de Gestão: "com um maior foco na Gestão, proporcionamos ao Produtor Rural o acesso a ferramentas gerenciais que lhe permitam tomar decisões e agir de forma mais adequada para obter resultados mais satisfatórios."
De modo geral, a tecnologia moderna proporcionou avanços importantes na cadeia produtiva do café. No entanto, tais progressos foram escassos e muito pouco perceptíveis no que se refere ao volume de mão de obra dispensado no processo produtivo, no caso em regiões íngremes.
Sabidamente, a atividade da cafeicultura de montanha em nosso país é uma cultura envolta com questões sociais, por princípio, ou exigência do ofício. E nos dias atuais, mais do que nunca, é preciso voltar os olhares para esta realidade.
A propósito deste fato, Marco Antonio Sanches, cafeicultor e presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Poços de Caldas (MG), comenta: "podemos dizer, a grosso modo, que o destino de 75% dos valores relativos aos custos de produção de nossa região é compartilhado com dezenas, centenas, milhares de trabalhadores rurais, que durante anos tiram do café de montanha o sustento de suas famílias. Na escala Brasil, certamente alcançamos de 8 a 10 milhões de cidadãos vivendo direta ou indiretamente da atividade cafeeira."
Com as recentes leis trabalhistas no meio rural e o modo com que são fiscalizadas na prática, muitas vezes sem o tempo hábil à reorganização de uma estrutura condizente - já que se trata de uma atividade ancorada em uma tradição longínqua em proporções nacionais - a responsabilidade social sobre os cafeicultores de montanha atinge níveis um tanto complexos, para dizer o mínimo. Esta situação se desenvolve, como já exposto no início desta matéria, em meio a uma forte tendência ao êxodo rural, fenômeno que todos temos acompanhado.
Marco Antonio comentou a respeito, oferecendo uma hipótese saudável à estrutura econômica do setor: “Neste contexto, entendo que uma solução justa e viável seja a garantia de subsídios governamentais aos cafeicultores no momento da venda de seus cafés, por intermédio de apoio financeiro à compra de insumos, tanto elementos minerais, como organominerais, produtos para tratamentos fitossanitários, equipamentos e maquinários comprovadamente necessários à produção do café. Desta forma, o cafeicultor poderá encontrar maior alívio em sua gestão de custo, o que proporcionará uma condição favorável para fortalecer suas atenções a questões como a qualidade, tanto do produto como também da sociedade de trabalhadores que em torno deste se desenvolve. Acredito que este possa ser um caminho justo para o reconhecimento do compromisso social da cafeicultura de montanha.”
Marco Antonio ressaltou ainda: “Vale lembrar que é fundamental que a mão de obra acompanhe a evolução tecnológica na atividade rural, e neste quesito presenciamos , reconhecemos e apoiamos os esforços de entidades na capacitação profissional dos trabalhadores rurais, a exemplo do Senar."
Natália Sampaio Fernandes, técnica da Comissão do Café da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil - CNA, salientou que o Brasil tem buscado cada dia mais soluções e estratégias para aumentar a competitividade do setor. No entanto, alertou sobre pontos críticos que influenciam direta ou indiretamente a rentabilidade em torno da mão de obra na cafeicultura: "as legislações trabalhistas exigentes, queda dos preços do café e falta de maquinário para otimizar a colheita em áreas montanhosas acabam corroborando para redução da rentabilidade na atividade cafeeira frente ao alto custo de produção".
Natália complementa seus argumentos sobre o tema rentabilidade lembrando dados desenvolvidos em artigo 'postado' recentemente no CaféPoint: "conforme dados de custo de produção de café do Campo Futuro (confira aqui), as lavouras localizadas em alta declividade têm sofrido bastante, onde muitas vezes os custos totais superam os R$400,00/saca. Com os preços no mercado físico de hoje bem abaixo deste valor, os produtores não estão obtendo renda."
A representante da CNA lembrou que recentemente foi criado um Grupo de Trabalho da Cafeicultura de Montanha por representantes do Governo e também da iniciativa privada (saiba mais). "Este Grupo de Trabalho visa levantar as principais ações a serem trabalhadas no curto, médio e longo prazo em busca da sustentabilidade e rentabilidade da cafeicultura de montanha."
Algumas medidas podem ser tomadas em relação à mão de obra, segundo Natália, "que vão desde o apoio à criação de uma máquina que colha café em montanha, até o estudo da criação de uma linha de financiamento específica para os que produzem café na montanha e utilizam grande quantidade de mão de obra".
E finaliza sua análise pontuando a Coesão do setor: "com grandes desafios pela frente, acredito que todos os elos da cadeia possam contribuir para o desenvolvimento de novas estratégias que visem a agregação de valor, aumento da rentabilidade e sustentabilidade da cadeia cafeeira."
Por fim, retornando ao 'jogo de desafios' da cafeicultura nacional e deixando a discussão em aberto para seu desenvolvimento, as análises acima ajudam a esclarecer uma intriga inicial desprendida desta pesquisa: em um panorama de mercado em que as Cotações do grão cru estão há muito tempo entre as mais voláteis do mundo das commodities e em um momento em que tal vulnerabilidade está exposta de modo escancarado, principalmente aos cafés arábicas - grande maioria da produção nacional - e onde as Incertezas Climáticas geradas por inconstâncias meteorológicas parecem estar cada vez mais reais - já que há muito tempo não se vê tanta chuva durante a colheita de modo geral como no ano passado, por exemplo - é de se respeitar enormemente o 'peso' da Mão de Obra no cenário atual da cafeicultura brasileira. A Coesão das partes envolvidas precisa encontrar uma Solução.
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