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Europa: melhor unidos?

POR SYLVIA SAES

E BRUNO VARELLA MIRANDA

BRUNO VARELLA MIRANDA

EM 22/01/2013

4 MIN DE LEITURA

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Passado o momento de dizer “adeus ano velho”, é necessário reconhecer: 2013 começa carregando boa parte do fardo que caracterizou os doze meses anteriores. Na Europa, a sensação é a de que o impasse econômico segue. Talvez as manchetes dos jornais tenham ficado menos eloquentes, ou tenhamos nos acostumado com o conteúdo; para quem vive a rotina do Velho Continente, entretanto, os desafios seguem. Dívidas impagáveis – caso da Grécia – ou o desemprego colossal – vide Espanha – são apenas dois exemplos entre os muitos encontrados do outro lado do oceano. Em uma terra acostumada a nos oferecer “lições”, chega a ser desconcertante a ausência de respostas para a atual encruzilhada.

Diante de tamanha incerteza, mesmo o que se considerava sólido passa a ser questionado. Primeiro foi o euro, e já há quem duvide da capacidade da União Europeia de fornecer uma rota de saída para a crise. Chama a atenção, ademais, o fortalecimento dos movimentos separatistas na Europa, pedindo por transformações no mapa político do continente. Seja na Bélgica, na Espanha ou no Reino Unido, as reivindicações são semelhantes, oscilando em torno das demandas por independência fiscal. Na maioria dos casos, acredita-se que a criação de um novo Estado – geralmente composto por uma região mais pujante – garantiria um futuro melhor aos seus habitantes.

A princípio, a ideia de uma nova unidade soberana no Velho Continente soa ultrapassada diante da proposta integradora da União Europeia. A história, entretanto, é mais complexa. Na verdade, a existência do bloco possivelmente facilita a aceitação do discurso de grupos separatistas, dado que permite a exaltação das vantagens da independência sem um debate sério de eventuais problemas. Na Catalunha, região cuja indústria depende do mercado espanhol de forma considerável, os líderes separatistas defendem a criação de um novo Estado dentro da União Europeia, ou seja, plena liberdade para administrar os recursos gerados dentro do território, com a manutenção das fronteiras abertas para a movimentação de bens, capitais e pessoas.

Talvez por isso, o discurso separatista cresceu consideravelmente no atual contexto de crise, atingindo uma parcela da população anteriormente refratária à ideia. Temerosos de que o sistema de bem-estar social seja desmantelado com a adoção de planos de austeridade, os cidadãos de regiões ricas da Europa passam a defender maior controle sobre o dinheiro dos impostos ali gerados. Não raramente, tais demandas levam a inconsistências de ordem ideológica: na mesma Catalunha, um partido de esquerda brada contra o déficit entre o que é arrecadado pela região e o que é enviado de volta pelo governo central, muito embora estes recursos sejam usados para financiar regiões mais pobres do país. Ou ainda, uma coalizão de partidos de centro-direita, em cujas fileiras militam dezenas de políticos que certamente se opõem a muitos dos “exageros” do Estado de bem-estar social, vendem a independência como uma alternativa para mantê-lo existindo.

Pouco se fala, por outro lado, do preço da existência de um Estado. Pensemos nos gastos com o estabelecimento de uma série de burocracias, tanto para assegurar o funcionamento interno da nova entidade soberana como para representá-la no exterior. Embora seja evidente que as regiões europeias com propostas sérias de independência têm condição de arcar com tais gastos, resta saber se a mudança compensa. Para a elite política, que terá mais cargos a distribuir, a resposta certamente é positiva; para os cidadãos, entretanto, o cálculo é mais complexo.

Outro fator merecedor de atenção é o efeito da independência de uma região sob a percepção dos indivíduos envolvidos. Após séculos de convivência sob um mesmo Estado, eis que a ruptura é promovida. Pois bem, ainda que pacífica, qual seria o efeito de uma Catalunha independente para os empresários catalães? Continuariam os espanhóis de outras regiões a comprar os produtos made in Calatunha, ou o ressentimento pós-separação prevaleceria? Estas são questões de difícil resposta, e que muitas vezes são esquecidas pelos economistas em seus cálculos, seja por miopia analítica, seja pelo interesse no independentismo.

Finalmente – e aí estamos diretamente envolvidos – é preciso considerar as consequências do separatismo para a governança europeia. Se soluções já são difíceis com o número atual de sócios da União Europeia, o que ocorreria se as fronteiras de parte de seus membros fossem implodidas? É provável que o êxito do separatismo no continente torne as soluções coordenadas ainda mais complicadas, dado que o número de partes interessadas aumentaria. Por isso, não causará estranheza se as autoridades europeias, diante de um possível aprofundamento dos processos separatistas, passarem a se opor de forma mais veemente – ainda que diplomaticamente – a tais movimentos.

Em resumo, enquanto a Europa seguir em seu impasse econômico, a apreensão seguirá em todo o mundo. Ocorre, porém, que os anos de vacas magras vêm trazendo importantes consequências para a relação entre os sócios da União Europeia, ou mesmo dentro de suas fronteiras. É consenso que, em grande medida, uma solução para as atuais dificuldades depende de uma resposta coordenada para a crise; resta saber quem serão os porta-vozes das possíveis alternativas.

Esta matéria é de uso exclusivo do AgriPoint, não sendo permitida sua cópia e réplica sem prévia autorização do portal e de seus autores.

SYLVIA SAES

Professora do Departamento de Administração da USP e coordenadora do Center for Organization Studies (CORS)

BRUNO VARELLA MIRANDA

Professor Assistente do Insper e Doutor em Economia Aplicada pela Universidade de Missouri

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